Moro entre o dia e o sonho
«A nossa casa era muito bonita. Além do pequeno quintal que já
referi estava rodeada de canteiros floridos. A porta da entrada principal tinha
três escadas em granito e um patamar empedrado onde estavam dois canteiros
grandes, um que nos pertencia e outro que era comum com a nossa vizinha. Havia
hortênsias nesses canteiros, recordo com muito carinho os seus tons azulados de
que eu gostava.
A rua tinha passeios largos onde podíamos brincar à vontade, com
árvores de folhas verdes. Era frequente à nossa volta ouvir-se o concerto dos
passarinhos que por ali pousavam e faziam os seus ninhos.
Do outro lado da estrada estava uma quinta antiga que ficou
dentro do bairro e era nesses terrenos que se encontravam as mimosas e as
tílias que me deixaram recordações únicas...»
Recordei estes momentos ao ler este poema de Rilke
Moro entre o dia e o sonho
Onde cochilam crianças, quentes da correria.
Onde velhos para a noite sentam
Onde cochilam crianças, quentes da correria.
Onde velhos para a noite sentam
e lareiras iluminam e aquecem o lugar.
Moro entre o dia e o sonho.
Onde tocam claros sinos vesperais
e meninas, perdidas da confusão,
descansam à boca do poço.
E uma tília é minha árvore querida;
e todos os verões que nela se calam
movem outra vez os mil galhos,
e acordam de novo entre o dia e o sonho.
Rainer Maria Rilke
e todos os verões que nela se calam
movem outra vez os mil galhos,
e acordam de novo entre o dia e o sonho.
Rainer Maria Rilke
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