Será nada me retira a alegria?
junto à foz
[...]
«No entanto, como preservar a alegria quando surgem as dificuldades, a
dor? Esta é a operação, cultivar a alegria na complexidade da realidade.
Não permitir que a complexidade da realidade anule, esconda, destrua
este dom, este fruto maior que é a alegria.»
(José Frazão Correia, sj)
Saberes
e desejos a ter presentes e que sinto, preciso cultivar cada vez
mais. Alegria que não posso deixar fugir por entre os custos de um dia
como o de hoje.
Bem
cedinho para ganhar tempo cá estou eu, no Hospital de
Gaia. Laboratório de análises, o irmão João acompanha-me, a Zilda
fica de vigia ao carro. Espero pela minha vez... Olho à minha volta e todos
estão pior do que eu, porque estão mais tristes!
Passa
mais de meia hora e chamam-me pelo intercomunicador, não tenho frio mas fico a
tremer por dentro, também não tenho medo porque o medo destrói a paz que desejo
cultivar.
Entro
na sala de colheitas, passo por várias enfermeiras a quem tenho de ir
repetindo... Nome completo e data de nascimento... Para provar que
que não há engano, sou eu mesma!
Sento-me
finalmente junto da pessoa que me vai picar... Uma, duas, à terceira pede
ajuda... Isto está mau diz ela, apanha-me a veia que rebenta antes que o sangue
pingue para o tubo. Lá consegue finalmente, já está! É sempre tão difícil
apanhar estas veias "queimadas" pela quimioterapia.
Saímos
depressa, quase nem penso na vontade que tenho de comer qualquer coisa. Os
outros pavilhões ficam distantes... E aí vamos nós, temos mais encontros
marcados para hoje.
(em 2016)
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