Despedidas... Pai
(…) A
despedida talvez seja a parte mais difícil da amizade. Não se pode dizer muita
coisa. Acho que aprendemos devagar, por vezes com muito custo, por vezes mais
serenamente, e ambas as coisas estão certas.
(…) Alguns
amigos tornam-nos herdeiros de um lugar, outros de uma morada, outros de uma
razão pela qual viver. Certos amigos deixam-nos o mapa depois da viagem, ou o
barco em qualquer enseada…"
José Tolentino Mendonça - In Nenhum caminho será longo
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Pai
Quero falar-te de amor, de
despedidas, dos lugares por onde vou passando e do pequeno barco que ficou à
deriva e se acomodou na enseada, quando tu partiste para sempre.
Dos dias de inverno, quando a nossa
casa ficava rodeada de neve. E eu de nariz encostado aos vidros da janela
ficava deliciada a ver as minhas irmãs e as outras crianças brincar. De quando
abria devagarinho uma fresta e me davam bocadinhos de neve que ficava a amassar
nas mãos até que se derretesse e se escapasse por entre os meus dedos.
Recordar também o teu colo, os teus ombros, os balões a fugirem das minhas mãos e a nossa cumplicidade e ternura.
Falo ainda, de como sou testemunha
da tua vida e do teu amor por cada pessoa. Guardarei em mim "o
mapa" que deixaste, depois da tua, para a minha viagem.
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