A quaresma e o silêncio
Que grandeza há no silêncio – não
o silêncio nefasto da falta mas no da virtude, que é perfeito quando dele não
se tem consciência – e que força se pode extrair dele. A alegria cristã é a
simplicidade de uma fé, a seriedade de uma esperança, a vitalidade do amor.
Na Quaresma a liturgia despe-se
dos seus aleluias e glórias, convidando-nos a um estreitamento de vida, a um
despojamento do supérfluo, a um tempo de germinação escondida e profunda,
iluminada sempre por uma esperança e uma espera. Ela convida-nos a entrar em
nós mesmos para nos mergulhar nas fontes da vida, em Cristo. Ela incita-nos a
reencontrar o nosso verdadeiro rosto num esforço de autenticidade e lucidez, na
oração e na caridade, para que, modelados à imagem de Cristo, sejamos capazes
de uma comunhão mais profunda no seu mistério.
Sim, porque o mistério de Cristo
não é algo que esteja fora de nós; ele é o que nós somos e o que somos chamados
a ser. O seu drama é o nosso. A nossa cruz não é outra que a de Cristo, é o seu
amor em nós que a carrega. A nossa verdadeira vida é a vida do Ressuscitado em
nós. Se a liturgia nos conduz pelos passos de Cristo é para nos ensinar o
caminho que é também o nosso.
O drama que se evoca na Quaresma
não é apenas a recordação de um acontecimento passado mas a atualização do
drama de Cristo, aqui e agora, para nós, que nos coloca diante da opção
decisiva da fé e do amor. Procuremos portanto estar em harmonia com o espírito
da liturgia deste tempo e acolher a seiva de vida que nos oferece.
Um monge cartuxo
Foto: Allison Trentelman
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