Perguntei ao Advento...
Perguntei ao Advento que palavras diria a um coração
abandonado e ferido… e ele falou-me de esperança. De uma esperança que resiste
a todos os malfeitores e devolve à vida o encantamento e a liberdade.
Perguntei ao Advento por um remédio para os olhares cinzentos,
por um elixir para os ritmos apressados e as vítimas do “sem-tempo”… e ele
falou-me de uma espera. Uma espera para não mutilar a vida e serenar as
ousadias sem fecundidade e todas as pressas e incapacidades de silêncio.
Perguntei ao Advento por uma luz que incendiasse os
corações mais frios, que tecesse nas fibras do ser profundo uma aurora
luminosa… e ele mostrou-me o mistério da Luz.
Perguntei ao Advento onde encontraria um menino para
deitar nas palhas de um presépio feliz… e ele sussurrou-me o nome de tantos
inocentes que não viram a luz; de tantos olhares pequenos, escondidos em
trincheiras e valas de guerra; o nome de tantos rostos vencidos pela procura de
pão.
Perguntei ao Advento onde encontraria uma árvore de Natal
para iluminar… e ele mostrou-me uma floresta de corações sem luz à espera do
rosto da fé.
Perguntei ao Advento pelo sentido do sonho, pelo toque do
vento no rosto dos sem-voz, pelas lágrimas derramadas em chão de desespero… e
ele fez-me ouvir o choro de uma criança nascida em Belém.
Perguntei ao Advento como poderia ajudar a sustentar um
mundo à beira do abismo e do sem-sentido… e ele falou-me da oração e de um
coração atento no meio de tantos dramas.
Perguntei ao Advento se deveria perder-me no encanto das
ruas iluminadas e descer às galerias das lojas onde se compram presentes e
rivalidades… e ele falou-me da frugalidade de João que tecia no deserto
palavras de sentido para oferecer a todos os buscadores.
Perguntei ao Advento se era possível viver sem todas as
respostas, sem entender todos os mistérios da vida, sem a ousadia de pronunciar
todos os porquês… e ele sugeriu-me contemplar o rosto de um justo sonhador, um
carpinteiro silencioso chamado José.
Perguntei ao Advento por promessas escutadas, por
horizontes ainda não vistos, por caminhos apenas começados… e ele falou-me de
Maria, agraciada, visitada e grávida.
Perguntei ao Advento por mim… e ele deu-me um beijo com
sabor a Infinito e um abraço com a ternura de um Filho.
P. Manuel Afonso de Sousa, CSh
In Comunidade Shalom
Comentários
Vou te pedir permissão para publicar seu poema no blog da igreja, com os devidos créditos, é claro.
Posso?
Beijos