A luta pela vida!


Estas fotos traduzem momentos de algum custo e aprendizagem, de lutas e de vitórias, de paz e felicidade. Por isso as partilho...

As minhas idas ao hospital de Gaia são cada vez menos frequentes... As consultas de rotina vão espaçando e agora, normalmente, vou cada seis meses.

Ontem foi o dia de ir fazer análises para a consulta do dia 27. Como sempre o João, meu irmão e companheiro de jornada, me espera e me leva ao serviço, me apoia e me dá a mão. Encontro novas pessoas, novos casos, novas caras de sofrimento.

Lembro-me que entrei ali pela primeira vez há 12 anos para uma consulta, por supeita de cancro mamário e passados poucos dias estava internada para fazer mastectomia.

Diagnóstico confirmado... Um mês de Radioterapia no IPO do Porto... Consultas mensais e trimestrais, marcadores tumorais sempre a subir inexplicavelmente, deixando-nos baralhados, porque tudo parecia estar bem!

Mais tarde e depois de muito estudo, muitos exames, porque "ele" se mantinha enigmaticamente escondido, surge o novo diagnóstico: cancro bilateral dos ovários.

Vivi dois ou três dias de "sonho"... Comunicar no trabalho e aos amigos, animar família, em especial os meus pais...

As primeiras lágrimas verdadeiramente choradas aconteceram na reunião da CVX, onde pude falar abertamente com o grupo e senti a preocupação de todos, sobretudo da Celina e do Victor que são médicos. Afinal aquilo era mesmo grave... Recordo-me que não fizemos a reunião habitual mas ficámos juntos durante bastante tempo, fizemos silêncios, rezámos...

Ao entrar de novo no Hospital com nova cirurgia marcada, lembro-me que ia cheia de confiança e de força, disposta a fazer o que fosse preciso para vencer mais isto que me estava a acontecer de novo.

Este pós-operatório foi mais custoso, tinha dificuldade em me alimentar e vomitava constantemente. Nesses primeiros dias, sentia que o meu coração estava inquieto, as forças começavam a faltar-me. Os meus pais deslocaram-se para Gaia, e em casa do meu irmão João (enfermeiro) revezavam-se para me fazer companhia durante o dia. A noite ficava por minha conta, dos enfermeiros e empregados, que sempre procuraram dar-me força e confiança. O meu médico era um Homem bom e queria ajudar-me a vencer.

Depois de nove ou dez dias de internamento, volto à Covilhã, à minha casa, aos meus amigos, à "minha" Igreja.

Quase não desfaço a mala porque é necessário regressar e preparar-me para fazer seis ciclos de quimioterapia. Fico assustada, tenho medo, será que vou morrer já?

A minha força parecia que se estava a acabar... a minha fé diminuía... ou não?

Comecei: "Taxol mais Carboplatina", ouvi a minha médica, Dª. Ana Paula, dar indicações. Estava a tremer, mas de novo confiante e com um sorriso, sobretudo no olhar, (disseram-me)...

Logo no primeiro tratamento, passados os 15 dias previstos, o cabelo começou a cair em grandes mechas. Era um dia 15 de Agosto - Assunção de Nossa Senhora - e eu estava a jantar com uns amigos... precisei de lhes dizer, de os sentir comigo, do seu abraço, da sua força.

No dia seguinte fui cortar o cabelo que restava... Adquiri novo visual e continuei em frente! Sentia-me diferente, mas era eu.

Sempre que voltava para mais um tratamentos, lá estavam as enfermeiras à minha espera, gostavam da minha força e do meu sorriso, mesmo quando já não havia veias para picar e uma ou outra lágrima surgia por causa das dores.

E é nestes momentos que nos parece - me parece - que mesmo rodeada de muita gente me sentia muito só. Havia em mim uma dor e um sofrimento que era inacessível aos outros. Um medo que eu não conseguia partilhar. Os tratamentos de quimiote­rapia eram de facto muito agressivos, debilitavam-me bastante. Tinha muitas dores nos ossos. Mas eu queria vencer aquilo. Fechava os olhos e pensava n'Aquele que me cria e recria para ser feliz.

Observava com atenção o que se passava à minha volta, olhava a doente do lado, falava-lhe com esperança e continuava a minha luta pela vida, vivendo um dia de cada vez.

Agora já tudo passou, aqui estou eu a contar a minha história. Foi mais uma etapa... A família, a minha CVX, a paróquia, os colegas de trabalho e muitos amigos apoiaram-me e ajudaram-me a encontrar forças para seguir em frente, mesmo quando o desânimo e a dor me invadiam.

Hoje, sempre que tenho oportunidade, sou eu que procuro dar ânimo a outros, com a minha experiência e a força de quem já passou pela mesma situação. É que o cancro não significa só morte (mesmo que seja o segundo). É possível sobreviver, é possível... Acreditem!

Sei que foi a certeza da presença amorosa de Deus na minha vida que me ajudou a al­cançar pequenas vitórias e me fez ver cada vez mais que o dom da vida é precioso, único e que "não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz", como diz Madre Teresa de Calcutá.

Comentários

Anónimo disse…
Amiga
Por contingências várias tenho-te visitado (diariamente) sem poder deixar aqui o registo dos tantos sentires e das imensas aprendizagens que faço com e nas tuas palavras!
Leio-te experimentando o sabor doce do Amor de Deus misturado no sabor amargo que às vezes a vida tem...e penso que a maior lição é ainda aquela que tu não escreves, aquela que nós, os que te compartilhamos, temos a graça de receber!
Bem hajas!
PCDR
Anónimo disse…
Querida amiga!
Depois de várias vezes vir ler ao teu blog, um testemunho tão real, tão sentido e com tanta fé.Sim,com tanta fé porque eu tenho a certeza que é nestes momentos que Deus põem à prova a nossa fé,a qual tu demonstras ter e nos ensinas a todos com a tua maneira de ser e de estar na vida....sempre pronta a compreender e a dar muito Amor.
Hoje recebi um mail com um poema de um desconhecido que eu acho que é o teu rosto e a tua pessoa....do fundo do meu coração um mto obrigada por tudo o que representas para mim.

Gosta de alguém que te ame,alguém que te espere, alguém que te compreenda nos momentos de desespero.
De alguém que te ajude,que te guie,que seja o teu apoio,tua esperança, teu tudo.
Gosta de alguém que te espere até ao final, de alguém que sofra contigo, que ria junto a ti, que limpe as tuas lágrimas;
Que te abrigues quando necessário,que fique feliz com as tuas alegrias e que te dê forças depois de um fracasso.
Gosta de alguém que te ame.Não gostes apenas do amor.
Não gostes só do amor,mas NÂO DESISTAS NUNCA DE AMAR!!!!

Falconetti
Paulo Costa disse…
Prezada Alice,

Não nos conhecemos pessoalmente, apesar de vivermos na mesma cidade.
Soube do seu blog através da Elsa(livraria Paulus). Recomendou-me com entusiasmo que lhe fizesse uma visita, e aqui estou eu!:)

Em primeiro lugar, quero agradecer-lhe por partilhar connosco o seu testemunho. Li-o com muita atenção, e meditei com o coração nas suas palavras, através das quais expressa de forma tão sentida e intensa, a sua luta, fé, esperança, coragem e confiança no Deus que nunca nos desampara, e com infinita ternura nos consola e fortalece para enfrentarmos todas as provações.

Se Deus quiser, voltarei mais vezes para me enriquecer, encantar, deliciar e deslumbrar com as experiências e tesouros que partilha connosco. As suas palavras transmitem beleza, confiança, esperança, coragem, alegria, amor...

Aproveito para a convidar a visitar os meus blogues: http://www.seguirjesus.blogspot.com
e http://www.abrigodossabios-paulo.blogspot.com

Abraço fraterno!

Fique na Graça e na Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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