A escada

Diante desta luminosidade que me transcende e me faz por momentos fechar os olhos, posso sentar-me e abraçar o mundo e nele e com ele, a minha mãe que hoje me parece ainda mais frágil, posso fazer-me perguntas que sufocam neste momento a pequenez da minha existência.
E pergunto-me: já não o porquê, mas o para quê * desta doença de Alzheimer que a ataca, e há tanto tempo vai esvaziando lentamente, mas cada vez mais o seu cérebro?
Para quê também estes momentos frequentes de lucidez que a fazem recordar que existe algo que não consegue controlar mas não sabe o que é?
Hoje tudo parece lento em mim, não quero no entanto deixar de continuar a minha subida e levar a minha mãe comigo ainda que tenhamos de nos sentar a meio… De manhã, estava na cozinha a preparar o pequeno-almoço ela chegou junto de mim e começou a chorar.
- Porquê mãezinha? O que se passa? A resposta veio com custo…
- Estou triste filha, mas não sei… não sei o que tenho, não sei o que se passa comigo.
Abracei-a, aconcheguei-a um pouco no colo tentando secar aquelas lágrimas que muitas vezes são tão inesperadas quanto breves… Fiquei calada durante alguns momentos, sem nada que conseguisse pensar ou fazer, a seguir dispus-me a recomeçar a subida.
* (palavras do amigo p. Vasco Magalhães)
Alice
Comentários
Abraço apertado!
Bjinho